A diapedese de forma resumida é a "Passagem dos leucócitos para o tecido conjuntivo. Faz-se por atravessamento dos vasos sanguineos. Este processo geralmente ocorre quando uma área é danificada e o processo de inflamação é necessário. Por Quimiotaxia,os neutrófilos e monócitos são atraídos até o local da inflamação, passando a englobar e destruir (fagocitose) os agentes invasores. A diapedese e a fagocitose fazem dos neutrófilos a linha de frente no combate às infecções.
Resumidamente, a diapedese é a saída dos glóbulos brancos dos vasos sanguíneos."
No ensino médio, ainda a conhecer os entrames da Biologia, Matemática, Quimica, ainda que na superfície dos conceitos, eles se apresentavam pra mim com a tranquilidade que toda certeza pode dar ao ser humano. Tudo era muito exato, ribossomos que liam RNA'S, a liberdade e independência das plantas autótrofas que geravam seus próprios alimentos, os primeiros seres, início da atmosfera e sua composição, tudo era um sistema perfeito. Isso até eu conhecer já na faculdade a Entropia (tendência a degeneração ou morte) e a incerteza que a Estatística se apresenta em todos os modelos.
Não vou questionar nem manifestar o meu repúdio ao sistema determinístico, positivista, passivista, militarista, eclesiático e degenerador de capacidades criativas do nosso ensino secundarista, voltaremos nessa questão em outra ocasião quando formos discutir o "trauma de transição" entre o Ensino Secundário e a Universidade.
Na ambição por acumular certezas do funcionamento físico cheguei a esse conceito - diapedese. No instante em que li, por intermédios de uma capacidade associativa comparei esse fenômeno com o Mito da Caverna de Platão na interpretação mais comumente usada.
Simulação do retorno do filósofo à Caverna
O Mito da Caverna
"A caverna, explica Sócrates a Glauco, é o mundo sensível onde vivemos. O fogo que projeta as sombras na parede é o reflexo da luz verdadeira (do Bem e das idéias) sobre o mundo sensível. Somos os prisioneiros. As sombras são as coisas sensíveis, que tomamos por verdadeiras, e as imagens ou sombras dessas sombras, criadas por artefatos fabricadores de ilusões. Os grilhões são nossos preconceitos, nossa confiança em nossos sentidos, nossas paixões e opiniões. O instrumento que quebra os grilhões e permite a escalada do muro é a dialética. O prisioneiro curioso que escapa é o filósofo. A Luz que ele vê é a Luz plena do ser, isto é, o Bem, que ilumina o mundo inteligível como o Sol ilumina o mundo sensível. O retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico, e as maneiras desajeitadas e insólitas do filósofo são compreênsíveis, pois quem contemplou a unidade da verdade já não sabe lidar habilmente com a multiplicidade de opiniões. Os anos despendidos na criação do instrumento para sair da caverna são o esforço da alma para libertar-se. Conhecer é, pois, um ato de libertação e iliminação."
(CHAUI, Introdução à filosofia, 2002, pg 257)
Da mesma forma que o filósofo se utiliza de um processo ascendente e descendente, em que ele liberta o olhar intelectual se livrando da cegueira para assim ver a luz das idéias, os leucócitos atravessam os epitélios para curar a efermidade física. O combate dos leucócitos é dos entrantes patogênicos do nosso organismo e o combate do filósofo está no conhecimento da verdade. O mais incrível é que alguns entrantes patogênicos do nosso organismos, uma vez que entram, são codificados e armazenados na memória celular, assim como a dialética codifica uma linguagem e um encadeamento lógico, produzindo memória intelectual.
Ambos estão no âmbito da cura, uma física sensível e outra inteligível, no campo das idéias, só que nada se sabe sobre a fronteira entre aquilo que é puramente físico e aquilo que é puramente subjetivo.
Nesse intuito eu criei o blog, em um formato que muitas vezes poderá se apresentar como recorte, pedaços de um quebra cabeça na busca quase religiosa pela outra peça. Cada nova peça dará outra projeção da imagem final, outra suposição, outro significado. O que buscamos é tanto a cura das efermidades físicas, como a cura da nossa visão sobre essa realidade sensível que insiste em nos enganar.
Dou início assim, ao Diapedese, lugar não-físico, liquido, como o contemporâneo e suas contemporizações.
Imagens