Estou a me cansar de bombardeios matinais de esperança de
vida fortuita. De sangrentos helicópteros procurando vitmas fatais ás sete
horas da manhã na cidade de São Paulo. De programas religiosos que dizem que
prosperidade econômica é mais importante que o amor, o afeto, a solidariedade.
Estou a me cansar de um mundo que vê os outros como meros meios de conquista de
objetivos que nem sequer são seus.
Estou sentado, tomando meu suco de maracujá azedo, que é pra
doer o canto da boca, lendo notícias de uma guerra próxima. Uma guerra tribal,
entre pessoas que não conheço, que estão a se degladiar numa conquista infame, mais que
milenar. Que lutam por uma terra que não tem mais rios, que seus animais estão
extintos e que seus desertos são maiores que suas florestas. Estou no meio, o
meio opinativo de ignorancia, sendo
bombardeado dia a dia por informações distorcidas em que desconheço como
verídicas, no meio de uma intenpérie de infância civilizatória.
O mundo que se cerca secularmente dos farpados da ignorância
humana meu amigo. O mundo daqueles que se consideram donos de tudo e de todos. Um mundo
de história escolar distorcida. Estão a me usar como força física e vívida em seus anseios mais obscuros.
Sou jovem, discuto os prazeres cotidianos massificados,
rebanhados, simplificados, estereotipados.. Estou a alimentar esses mesmos
prazeres naqueles que nascem ou ainda
estão pra nascer. E observe.. sequer cobro por força e reforço de trabalho ideológico na cabecinha desses pequenos seres. Sou
exército de anseios e segredos que desconheço, de protocolos ostensivos que não
tenho tempo de refletir, sou uma força de trabalho para pessoas que estão a se
promover por cima de mim.
Sou aquele que faz o que os outros mandam, que diz o que os
outros pensam, que faz em suas identidades mais midiáticas, trejeitos de uma
nação criada. Sou a alma, a identidade, a cultura de um povo que não se aceita.
Sou um mestiço de jetinhos que não
gosto, de um furar fila que abomino, de um patrimonialismo que escarro. Sou a
morte do índio escravizado, coitado... nada mais é do que um estudo de Stauss, que não
se aceita na realidade do cotidiano monótona do mato, que vende seu peixe por um gargalo de
pinga aos burgueses pescadores.
A guerra que me reforça a preocupar, é uma guerra entre
pensamentos doentios, de ideologias paradoxais, pois não existe hamonia entre
Liberdade, Fraternidade e Igualdade. A natureza que por si só seleciona seus
ancestrais, divide responsabilidade entre seus seres, coloca os consumidores como
usufuidores dos produtores, tende sempre á uma relação de inequidade mesmo que no infinito. Uma
sociedade não pode se libertar sem a prisão da segurança que assegura a
liberdade. Uma igualdade sem o conflito
que lhe estabelece o medo, não pode gerar a tão gloriosa fraternidade. A Fraternidade na pós-modernidade é insegura, liquida como os centros urbanos, superficiais como os programas dominicais, materiais como a sede de salário. Uma
fraternidade em que os anseios de superioridade econômica se estabelecem como
ápices da existência, torres inquebráveis dos valores humanos, a vida não pode ser nem igualitária, nem libertária, nem fraternária.
Como jovem, desconheço a escolha do meu currículo escolar,
desconheço sua veracidade, não sei a
razão do instigar competitivo entre meus próprios colegas de classe. E vejam, quanto mais avançamos, mais somos cobrados a competir, o que no dicionário é quase o contrário de se solidarizar. Não sei o
porque de decorar fórmulas sem saber sua razão de existência. De uma coisa eu
sei, alguém pensou em como isso ia me fazer seguir determinado comportamento de
competição desleal.
Pergunto sempre aos meus gurus do mercado de trabalho o porque do juros da poupança ser três vezes menor que os juros que os bancos utilizam pra emprestar esse mesmo dinheiro a outra pessoa.. Dinheiro este que é meu! Os bancos emprestam esse dinheiro que é meu para outra pessoa financiar sua casa própria, a juros quase cinco vezes maiores do que aqueles que eu recebo do banco como "aluguel e administração" do dinheiro. Alguns inundados de ciência perversa vão dizer que é o risco embutido que é colocado no valor do empréstimo. Blasfêmia. Nossos bancos judaicos lucram mais que toda nossa produção de alimentos.
Estou ainda a tomar meu suco de maracujá azedo, aquele mesmo
que dói o canto da boca. E o azedo que dói, é o mesmo da sustentabilidade atrás
de uma cortina de fumaça. Um azedo que me faz ranger os dentes ao ver uma
atendente de supermercado colocando sacolas diferentes para um pão e uma
manteiga. Um azedo doído que divide negros de brancos e cria uma racialização
classista do povo brasileiro nas Universidades.
Eu acredito no sonho impossível que me é vendido
diariamente. Os manequíns escolhidos vivem bem. Eles têm barcos, mulheres,
peitos plastificados, bundas descomunais, corpos esculturais. O que eu compro
diariamente? Esperança, medo e ansiedade. Esperança de ser o escolhido e ter
todas essas coisas, medo de não ser aquilo que eles querem que eu seja,
ansiedade por ainda não te-los conquistado e estar num estado de desconforto pessoal
de incapacidade inajustável. O Estômago de todo jovem pós-moderno sofre.
Ainda no meu sofá, oval no âmbito cervical, tomando meu suco
de maracujá azedo, vejo valores impregnados em telenovelas que decepam nossa
capacidade de compreênsão do outro. Simplificando personalidades, ridicularizando
formas e grupos, e diminuindo a níveis atômicos nossa capacidade de relação com
o outro sem o viés esteriotipal. Vejo filmes que tendem a perpetuar um povo,
que detêm quase um terço da riqueza mundial e que está agora a expulsar africanos
de seus territórios. Quanta irnonia do destino. De coitados hitletianos a opressores
perversos.
Vou continuar no meu sofá, de pano surrado, oval na
cervical, tomando meu suco azedo. Irei rir de toda certeza baforada por um
adulto, como aquele que ri do outro quando sabe a indubitável verdade. Irei dar
gargalhadas quando nos enfiarem a fome e ficarmos falando mal do presidente e
suas políticas altamente subversivas, comprados quase sempre como gentios pedintes. Irei
fazer aquele sorriso de lado irônico quando tentarem me convencer que o mundo
está na força interior e nos livros de auto ajuda. Mas irei me reter e ficar
sério a contemplar, quando um jovem de vinte anos me disser que tomou a vacina
do filtro civilizatório, com um olhar terno dizendo "essa guerra não nos pertence, esse
medo não é nosso, essa mídia não representa aquilo que nós somos.