terça-feira, 4 de setembro de 2012

Desabafo de um jovem aos 20 anos.





Estou a me cansar de bombardeios matinais de esperança de vida fortuita. De sangrentos helicópteros procurando vitmas fatais ás sete horas da manhã na cidade de São Paulo. De programas religiosos que dizem que prosperidade econômica é mais importante que o amor, o afeto, a solidariedade. Estou a me cansar de um mundo que vê os outros como meros meios de conquista de objetivos que nem sequer são seus.

Estou sentado, tomando meu suco de maracujá azedo, que é pra doer o canto da boca, lendo notícias de uma guerra próxima. Uma guerra tribal, entre pessoas que não conheço, que estão a se degladiar numa conquista infame, mais que milenar. Que lutam por uma terra que não tem mais rios, que seus animais estão extintos e que seus desertos são maiores que suas florestas. Estou no meio, o meio opinativo de ignorancia,  sendo bombardeado dia a dia por informações distorcidas em que desconheço como verídicas, no meio de uma intenpérie de infância civilizatória.

O mundo que se cerca secularmente dos farpados da ignorância humana meu amigo. O mundo daqueles que se consideram donos de tudo e de todos. Um mundo de história escolar distorcida. Estão a me usar como força física e vívida em seus anseios mais obscuros.

Sou jovem, discuto os prazeres cotidianos massificados, rebanhados, simplificados, estereotipados.. Estou a alimentar esses mesmos prazeres naqueles que nascem ou  ainda estão pra nascer. E observe.. sequer cobro por força e reforço de trabalho ideológico na cabecinha desses pequenos seres. Sou exército de anseios e segredos que desconheço, de protocolos ostensivos que não tenho tempo de refletir, sou uma força de trabalho para pessoas que estão a se promover por cima de mim.

Sou aquele que faz o que os outros mandam, que diz o que os outros pensam, que faz em suas identidades mais midiáticas, trejeitos de uma nação criada. Sou a alma, a identidade, a cultura de um povo que não se aceita.  Sou um mestiço de jetinhos que não gosto, de um furar fila que abomino, de um patrimonialismo que escarro. Sou a morte do índio escravizado, coitado... nada mais é do que um estudo de Stauss, que não se aceita na realidade do cotidiano monótona do mato, que vende seu peixe por um gargalo de pinga aos burgueses pescadores.

A guerra que me reforça a preocupar, é uma guerra entre pensamentos doentios, de ideologias paradoxais, pois não existe hamonia entre Liberdade, Fraternidade e Igualdade. A natureza que por si só seleciona seus ancestrais, divide responsabilidade entre seus seres, coloca os consumidores como usufuidores dos produtores, tende sempre á uma relação de inequidade mesmo que no infinito. Uma sociedade não pode se libertar sem a prisão da segurança que assegura a liberdade. Uma igualdade sem  o conflito que lhe estabelece o medo, não pode gerar a tão gloriosa fraternidade. A Fraternidade na pós-modernidade é insegura, liquida como os centros urbanos, superficiais como os programas dominicais, materiais como a sede de salário. Uma fraternidade em que os anseios de superioridade econômica se estabelecem como ápices da existência, torres inquebráveis dos valores humanos, a vida não pode ser nem igualitária, nem libertária, nem fraternária.

Como jovem, desconheço a escolha do meu currículo escolar, desconheço sua veracidade, não sei  a razão do instigar competitivo entre meus próprios colegas de classe. E vejam, quanto mais avançamos, mais somos cobrados a competir, o que no dicionário é quase o contrário de se solidarizar. Não sei o porque de decorar fórmulas sem saber sua razão de existência. De uma coisa eu sei, alguém pensou em como isso ia me fazer seguir determinado comportamento de competição desleal.

Pergunto sempre aos meus gurus do mercado de trabalho o porque do juros da poupança ser três vezes menor que os juros que os bancos utilizam pra emprestar esse mesmo dinheiro a outra pessoa.. Dinheiro este que é meu! Os bancos emprestam esse dinheiro que é meu para outra pessoa financiar sua casa própria, a juros quase cinco vezes maiores do que aqueles que eu recebo do banco como "aluguel e administração" do dinheiro. Alguns inundados de ciência perversa vão dizer que é o risco embutido que é colocado no valor do empréstimo. Blasfêmia. Nossos bancos judaicos lucram mais que toda nossa produção de alimentos.

Estou ainda a tomar meu suco de maracujá azedo, aquele mesmo que dói o canto da boca. E o azedo que dói, é o mesmo da sustentabilidade atrás de uma cortina de fumaça. Um azedo que me faz ranger os dentes ao ver uma atendente de supermercado colocando sacolas diferentes para um pão e uma manteiga. Um azedo doído que divide negros de brancos e cria uma racialização classista do povo brasileiro nas Universidades.

Eu acredito no sonho impossível que me é vendido diariamente. Os manequíns escolhidos vivem bem. Eles têm barcos, mulheres, peitos plastificados, bundas descomunais, corpos esculturais. O que eu compro diariamente? Esperança, medo e ansiedade. Esperança de ser o escolhido e ter todas essas coisas, medo de não ser aquilo que eles querem que eu seja, ansiedade por ainda não te-los conquistado e estar num estado de desconforto pessoal de incapacidade inajustável. O Estômago de todo jovem pós-moderno sofre.

Ainda no meu sofá, oval no âmbito cervical, tomando meu suco de maracujá azedo, vejo valores impregnados em telenovelas que decepam nossa capacidade de compreênsão do outro. Simplificando personalidades, ridicularizando formas e grupos, e diminuindo a níveis atômicos nossa capacidade de relação com o outro sem o viés esteriotipal. Vejo filmes que tendem a perpetuar um povo, que detêm quase um terço da riqueza mundial e que está agora a expulsar africanos de seus territórios. Quanta irnonia do destino.  De coitados hitletianos a opressores perversos.

Vou continuar no meu sofá, de pano surrado, oval na cervical, tomando meu suco azedo. Irei rir de toda certeza baforada por um adulto, como aquele que ri do outro quando sabe a indubitável verdade. Irei dar gargalhadas quando nos enfiarem a fome e ficarmos falando mal do presidente e suas políticas altamente subversivas, comprados quase sempre como gentios pedintes. Irei fazer aquele sorriso de lado irônico quando tentarem me convencer que o mundo está na força interior e nos livros de auto ajuda. Mas irei me reter e ficar sério a contemplar, quando um jovem de vinte anos me disser que tomou a vacina do filtro civilizatório, com um olhar terno dizendo "essa guerra não nos pertence, esse medo não é nosso, essa mídia não representa aquilo que nós somos.