“Nada
é certo, exceto morrer depois de ter nascido e a impossibilidade de, enquanto
se vive, escapar do destino” disse o jovem Crítias a seu amigo Sócrates. Podia
Crítias perceber que o intervalo entre nascer e morrer é consequência direta da
evolução? Não seria possível morrer no tempo da infinita divisão unicelular,
naquele tempo egoísta nós auto-duplicávamos. Poucos bilhões de anos se
passaram, e hoje comutamos para geração de únicos seres altamente adaptáveis. Deus,
aquele humanóide vingativo do velho testamento não nos daria a adaptação
comutativa sem nos retirar a vida eterna bacteriana. A complexidade celular deu
origem ao programa de morte, fardo irrenunciável de cada ser vivo que aqui
habita.
A
morte, é o ultimo lançamento de Deus para o planeta terra que não caiu em
obsolescência perceptiva ou tecnológica. Deus pode ter entristecido a muitos
com sua nova invenção, a mim não. Imaginemos existir eternamente nesse
arcabouço de atribuições todas criadas para vencer o tédio? A vida é um tédio..
O que nos a torna suportável, ou não, são as coisas que criamos para ludibriar
a realidade tediante da existência. O amor, a guerra, o medo, as instituições,
as filosofias, e tudo o que nos mantém ocupados são criações dos parceiros de
Deus, os homens.
Parceiros
irrenunciáveis de Deus, os homens resolveram legitimar essa criação de Deus. Criaram
as religiões, intimamente ligadas a morte. Todas elas sustentam esse novo
produto de Deus. Elas acompanham um manual de instrução de uso e manutenção,
tipo palavras cruzadas, nada fácil. A linguagem é metafórica, que é pra dar
emoção ás descobertas e os idosos ocuparem seu tempo. Ao final da leitura do
Manual, todos sabem como ocuparem suas vidas e torna-las menos tediantes, no
entanto em letras minúsculas no rodapé do canto esquerdo ao final do Manual,
consta que a garantia de vida após a morte é restritiva, tudo depende do uso
correto das instruções.
Entretanto,
a arma indiscutivelmente mais eficiente criada pelos homens para dar
significação a existência nesse intervalo finito, é o amor. Tão eficiente que
ao homem não lhe é dado o direito de querer ou não. É espontâneo e pode causar
danos irreparáveis na finitude do intervalo entre nascer e morrer. Um avanço
sobre a religião. Nada submerso em amor é sacrifício. Seu poder alimenta as
capacidades criativas do homem, ou pode destruí-la completamente. Tão forte,
que alguns interrompem seu intervalo, adiantando o encontro com a nova tecnologia
de Deus. Astutos homens, criam sobre suas próprias criações, inventam símbolos
para o amor, imagens, cheiros, sons, letras... Sábio é que ultimamente essa
invenção humana está a se tornar obsoleta.
Sábio
Deus, quem é aquele sem seus correligionários? Quem é aquele se não querido em
algum lugar qualquer que seja? Homem fiel a Deus, continuem criando, nos dê
sempre o sabor da ocupação, do não ser em vão. Que a morte como produto
manufaturado por Deus sirva aos homens, e sua pulsão de morte continue trazendo
criatividade aos homens, para que fiquemos ocupados, o tempo todo.