Nos últimos meses vimos florescer uma avalanche de denúncias contra a base da situação governista no Estado de Goiás basicamente controlada pelo PSDB/DEM. As acusações de possíveis atos de improbidade, envolvimentos ilícitos e ligações com um bicheiro da clandestinidade mostraram para todo o Brasil o Estado de Goiás de forma negativada pegando muitos de surpresa. Vários atores da sociedade civil, jovens, opositores, descontentes, se manifestando contra esses atos degeneradores do Estado democrático nas redes sociais e mídias afins. Mas uma questão me intrigou, quem são os opositores e enfáticos que estão a dar repercussão globalizada a essas notícias? Quem é o cagueta? Quem que não quer mais o Marconi como executor de Goiás? Tomemos muito cuidado.
Antes de discorrer sobre esse assunto gostaria de teorizar sobre a formação política do Estado de Goiás. Sabe-se que Goiás se tornou Unidade Federativa independente com a proclamação da república em 1889 sendo sempre de característica agrária desde o período colonial quando ainda era da captania de São Paulo. Nesse contexto sempre se observou em Goiás características coronelistas, devido á má distribuição de renda, baixo nível de alfabetização e falta consciência política cidadã dos seus habitantes.
Um traço marcante da significação que Leal dá ao coronelismo é o paternalismo. Favores como emprego público aos aliados, assim como a sonegação de direitos aos adversários, resvalando para a ilegalidade, contribuem para organizar a administração municipal sob o poder do coronel. E nesse contexto Goiás percorreu todo o século XX até a efetiva democratização do Brasil em 1988. Porém não é de uma hora para a outra que um estado deixa características culturais enraizadas
A partir do Estado Novo, a política de Goiás se configurou entre duas correntes, a dos ruralistas ligados ao antigo governador Henrique Santilo e a dos MDB que lutavam pela democratização que enfim chegou com a proclamação da Constituição.
No entanto não só a mudança de um Estado autoritário para um democrático foram capazes de abalar as características clientelistas, coronelistas e paternalistas desse Estado. Disfunções ainda permanecem em grandes e pequenas esferas do poder público, porém com pequenas alterações. O poder coercitivo antigamente feito pelo coronel para apoiar determinado candidato deu lugar para o poder ideológico dos mecanismos de informação e sua grande capacidade de gerar consenso, mostrando boas práticas desse ou daquele candidato e falhas de outros. A imprensa goiana se divide muito bem como coronelista eletrônica.
TV Anhanguera, TBC, Diário da Manhã, são claramente governistas.
Demais mídias ou são opositoras (Radio 730, Carta Capital dentre outras) ou são "neutras".
Como afirmam Lima e Lopes (2007) emissoras de rádio e televisão são, em boa parte, mantidas pela publicidade oficial e estão articuladas com as redes nacionais dominantes, originando um tipo de poder não mais coercitivo, mas criador de consensos políticos que, embora não garantam, facilitam a eleição ou a reeleição de representantes em nível federal - deputados e senadores - que, por sua vez, permitem circularmente a permanência do coronelismo como sistema. Esses autores também defendem que no coronelismo eletrônico, como no velho coronelismo, a moeda de troca continua sendo o voto, só que não mais baseado na posse da terra, e sim no controle da informação e na conseqüente capacidade de influir na formação da opinião pública.
Também Garcia (2006) afirma que a expressão coronelismo eletrônico vem sendo usada há tempos para denominar o fenômeno que se desenvolve no cenário da comunicação nacional, com os donos de emissoras de TV, especialmente os políticos ou seus representantes, ou ainda, seus cabos eleitorais, utilizando a emissora para promoçãoimagem e candidatura.
Contudo, a sociedade civil não deve assumir ares de ingenuidade e se agarrar á qualquer mecanismo manobrista. A sociedade civil deve observar essa crise política em Goiás com sobriedade, sem oba oba. Quem são os atores envolvidos nesse processo de derrubada? As acusações são procedentes? E a justiça como se manifesta? Devemos responder essas perguntas antes de tomar alguma atitude motivada por interesses políticos obscuros.
Se for pra mudar, que seja com racionalidade, para um estado melhor e não uma transferência de um coronel para outro. Tomemos cuidado com as fontes de informação que tanto damos confiança, apuremos os fatos antes de sermos massa de manobra de outro coronel que irá assumir o posto do atual.
Fontes:
Coronelismo:
Administração Pública e a Sociedade Brasileira
Forma de Poder/Autoridade ainda viva nas Relações entre aAutoria: ENAPG 2008
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